
Minha mãe sempre disse que 4 mudanças equivalem a um incêndio… Pois bem, essa é a quarta!
Hoje, 21/01/10, foi o último pôr-do-sol na cabeceira do Jardim Botânico! Hoje, foi a última vista para a quase extinta serra do mar… Hoje, ufa! foi a última vez que eu fiquei esperando o bendito controle do portão funcionar… Foi a última vez que eu abri aquela porta para chegar em casa, a mesa onde descansava a chave já não estava mais... Por 18 anos, eu sempre esperei voltar para cá... Por 18 anos, eu sempre esperei voltar para cá…
Hoje, foi meu último dia no Cristo Rei. Impossível não lembrar da minha avó e dos relatos dos seus últimos minutos de vida, duas lágrimas dela escorreram quando meu avô deixou o quarto de hospital… A despedida é mesmo fatal. E hoje, ao ajuntar todas as coisas, todas as coisinhas esquecidas na gaveta por conveniência ou acaso, vieram à tona! Incrível, como a gente coleciona saudade pela vida…
Minha casa agora é um eco, mas impressionante como não ressoa no meu coração, porque mudança rima com esperança…
Agora, serei moradora de outro bairro, posso até dizer de outra cultura… Foram 18 anos acordando com os raios laranjados do sol que refletia do Jardim Botânico, ou com o barulho de chuva (ultimamente, para ser mais exata…) Nunca nesses 18 anos, o trem atrapalhou meu sono, nem o das 23h, nem o das 05h00 e o das 07h30 era um marco, na maioria das vezes encontrava com ele já lá embaixo…
Nesses 18 anos eu vi a rua Agamenom Magalhães mudar o sentido de mão dupla para única. Vi o Fernando Henrique implantar o Real, o Brasil eleger o Lula, o Ronaldinho entregar a copa para os franceses, mas também vi o Guga levantar a moral dos Brasileiros em Roland Garros, eu vi a natureza dando sinais de cansaço, agora vejo ela gritar por socorro… Vi o Ayrton Senna, o Michael Jackson, o Mário Quintana, a Princesa Diana, a Zilda Arns e tantos outros morrerem, vi a guerra do golfo e a do Afeganistão, vi o boom da internet, é espantoso lembrar que minha primeira aula de redação - na faculdade - foi em uma máquina de escrever OLIVETTI… Nesse tempo todo, vi algumas amigas casarem, vi o mundo de muitas e diferentes maneiras com outras lentes, sentidos e perspectivas… Voltei a celebrar duas copas e só por uma vez , vibrei ao ver o Capitão levantar a taça…
Quando eu cheguei aqui eu ainda insistia nos cabelos longos, andava de ônibus, estudei no terceiro milênio, depois na PUC, na UFPR e mais tarde na FAE.. Andava pelas ruas contemplando as nuvens, eu tinha uma alma de poeta… Quando eu cheguei aqui, não sabia a profissão que seguiria e hoje já abandonei aquilo que foi uma paixão: o jornalismo! Abandonei a carreira, mas ainda escrevo, porque escrever também é um ato de amor…
Eu vou para o outro bairro com os cabelos curtos, as idéias grandes e os sonhos longos...
Agora já não ando contemplando as nuvens, mas invento uma maneira alegre de conviver no trânsito de Curitiba, às vezes, aviso que a porta está aberta - mesmo não estando, às vezes, buzino para desconhecidos e às vezes, grito no sinal…
Minha alma ainda é sonoramente, brincante, de poeta, ou como me definiu minha amiga ontem: "VERÃO"… Não pretendo voltar para o jornalismo… Mesmo porque nem o diploma vale e especialmente porque descobri outros encantos…
Descobri que Educação é uma palavra ampla, mas também poderia ser traduzida como: uma maneira de se fazer feliz seja você, os outros ou o momento… Descobri, também, que as crianças… Ah! As crianças… São uma fonte inesgotável de amor…
Eu saio da Av. Agamenom Magalhães, 139-1001, mas ela não sai do meu coração, afinal, por 18 anos eu viajei e voltei muitas vezes! Por 18 anos, minha vida habitou aqui…