
Parafraseando a Madalena Freire...
Quando penso nas palavras, fico admirada com as junções das letras e o significado que elas tomam... E mais ainda, como elas sintetizam uma emoção, como sinalizam um momento, como dão sentido literal à vida...
Dessa vez, vou colecionar a palavra: doador! doa a dor! Pela primeira vez doei sangue, rompi o medo e para aproveitar o embalo também me cadastrei como doadora de medula óssea... Confesso! Doeu!
E, às vezes, ainda dói...
E as marcas que fcaram, não me deixam esquecer aquele dia.. As veias estouraram...
A enfermeira, então, desistiu, (Pilatos! Pensei...) E aí eu apelei: "por favor, tenta uma última vez, que eu assumo o risco!" Na hora, eu não quis passar o cálice para frente... Lá de longe, eu ouvia a enfermeira falando bem próximo ao meu ouvido: "respira, respira fundo que vai dar tudo certo!"
Mas, eu só conseguia me concentrar no meu sangue e na pressão que aquela "agulhinha" fazia... Doeu de novo e continuou doendo até o fim!
Enquanto meu sangue passava por aquele caninho, cumprindo o longo caminho em direção à bolsa-enquanto minhas veias arrebentavam-enquanto eu fechava os olhos porque estavam ficando pesados-e enquanto minha mão já não aguentava mais abrir e fechar-e enquanto tudo foi ficando meio escurinho... (escrevi sem espaço, só para dar a noção da falta de fôlego que foi tomando conta de mim...)
Fiquei meditando nas palavras da Verdade... "lavados, renovados, remidos, pelo sangue de Cristo"... Incrível, como o comprometimento é do doador! Quando Cristo, resolveu dar a vida por nós, ele assumiu o risco todo... Fico imaginando se Deus não ficou no ouvido dele: "respira, respira fundo que vai valer a pena!" (Acho que todo mundo já ouviu esse tipo de voz, interna, que inexplicavelmente nos impulsiona!)
Mas a dor, não se compara ao benefício posterior do doa-a-dor! Não há nada no mundo mais gratificante que ver alguém mais "coradinho", mais alegre, mais sorridente. Não há alegria maior do que presenciar uma família novamente unida, quase completa, e inteiramente renovados por "graça", todos na sala de estar exalando esperança em forma de lágrimas!
Acho que nem juntando todas as cólicas, todo o mal jeito, o mal-estar, as torções nos pés, e as batidinhas na cabeça, nem todas as dores da alma que eu já conheço e vivi... Nem assim, nem assim eu consigo imaginar a dor que Jesus Cristo passou...
Mas estou certa de uma coisa, o que Deus faz por nós é incomparável, grandioso, maravilhoso...
Estou certa também de uma coisinha... Doar nos transforma, parece que o coração da gente se alarga... O corpo todo sorri, a alma fica mais leve e a gente mais forte! Que somos até capazes de carregar a dor dos outros...
Eu doei um pouco de sangue para uma pessoa que eu pouco conheço, mas pelo pouco que conheço, aprendi a admirar e respeitar... Lembrei do versículo que diz: "porque pelo fruto se conhece a árvore"... Os frutos dele são maravilhosos...
A família Jaques Moraes (ou Moraes Jaques - eu nunca sei exatamente a ordem!) tem um quê especial... Que ter participado deste momento com eles e travado essa batalha junto, me deixou mais feliz e confiante em Deus, é para isso que ele ajunta pessoas, e cada vez mais, cada dia mais, cada passo a mais, estou me convencendo do que minha avó dizia "é o amor que move o mundo..."
Quando vi a Maira de manhã, na minha frente, chorando por causa do pai e depois, a noite, eu os vi abraçados, lembrei que é só o AMOR que deixa tamanha marca mesmo...
E enquanto termino de escrever este post, percebo que o roxo no braços, estão sumindo e que vão ficar apenas as lembranças do que eu escrevi acima: só o amor pode deixar tamanha marca...
E a resposta é: sim eu ainda vou doar outras vezes... A médica da Ecco Salva que me atendeu durante a tarde, garantiu que o que aconteceu era normal... Sorte de principiante, eu diria...